27 outubro 2009

Aos doze, os direitos.

Gostaria de ser suficientemente bom para Laurita, mas sou ladrão, já roubei. Se Laurita entendesse, eu ficaria contente, mas não adianta, sou viciado, já provei álcool, fumei, cheirei e piquei. Os olhos dela, tão claros, não sabiam como é, eu sou um fodido... prostituído. Era triste demais desejar Laurita, ela era meu nunca.
Postado por ükma

23 outubro 2009

Kasumi cicatrizada


Ela dançará esta noite. Apenas cinquenta convites, esgotados em dez minutos.

Kasumi adorava a história de Rapunzel, por isso, compus em violino uma música com este nome para ela. Ao ouvi-la, K. entrou em transe e por alguns segundos, suas órbitas oculares ficaram vazias.

Sabe, Frank, eu te esfaquearia ao som desta música, seu corno”

À noite, no palco improvisado nos fundos de um bar, Kasumi dançará novamente ao som de Rapunzel. Nua, dentro da cabine telefônica surrupiada de alguma esquina nova-iorquina, ela dançava sem se importar com as paredes decoradas com facas, navalhas e tesouras...

Eu gosto desse clima, do sangue, da música... eu amo Kasumi e seu corpo alvo repleto de cicatrizes. No ato final, ela tosa a cabeleira negra com a katana do seu bisavô e chicoteia a cara dos espectadores com ela. Ficamos cobertos suor, cabelos e sangue.

14 outubro 2009

DE MÃOS DADAS É MUITO MELHOR

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a cidade onde vivo é um amontoado de concreto. esculturas abstratas traçam seu contorno e miolo. tudo é muito feio. tiram de seus habitantes a graça do sorriso acolhedor em troca de alguns papéis assinados com firma reconhecida em cartório. mesmo assim, tento manter o antigo hábito de caminhar por suas movimentadas avenidas onde, de vez em quando, deparo com tristes figuras de um ou outro saudosista como eu.

hoje chamei uma garota pra caminhar de mãos dadas pela cidade. tenho certeza que minha impressão da antiga cidade vai mudar. talvez ela não saiba o que dizer, mas já vejo um colorido adiante.
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09 outubro 2009

VENDO PEDAÇO DE TERRA EM ALDEIA INDÍGENA

não é o melhor lugar do mundo pra se morar mas tem vista bonita. não há comércio nem ponto de ônibus nas proximidades. luz e esgoto nem pensar. água tem. direto do rio. para comprar mantimentos básicos deve-se deslocar por cerca de 100 Kms mato afora pé ou a cavalo. os índios ainda não foram catequizados. mas isso não é problema, é?

não é permitido plantar sem autorização expressa do governo. para caçar e pescar tem que ter o alvará do IBAMA. coisa fácil de se conseguir. também não se permite construir moradias com madeira nativa ou materiais industrializados. de sapê pode mas tem que pedir pro cacique.

mas é tudo muito lindo. mas é claro que não me refiro àqueles índios pelados nem àquelas índias pelancudas e sim à natureza. ainda restam 30% de mata fechada e intocável. há ainda algumas das velhas espécies de animais. é, de vez em quando tem urubu, mas só quando morre o gado do índio.

tudo isso eu vendo por uma ninharia. aceito troca por caminhonete, trator, motosserra ou gerador. você não vai se arrepender. eu juro.

08 outubro 2009

Ela se Fodeu Sozinha

eu gozei na boca dela. ela diz que engoliu. mentira, vi o cuspe esporrado no banco de tras. desvalorizou meu carro. minha reputação, intacta. comedor de bucetas e gozador de caras. e eu digo que sou triste porque não rio da desgraça dela. a puta da noite. a perpétua intriga entre eu e eu.

eu gozei na boca dela. ela acreditou e eu também. embora a cena seja estúpida, ela também gozou. se for só pelo prazer de dizer, por que não diz longe de mim? eu fui catar maresias e abortei indivíduos, todos sedentos por minha sangria. eu digo que sou triste só pra fazer charme pra burguesia.

eu gozei na boca dela. o estado deve cobrar imposto sobre o consumo de entorpecentes por mililitros produzidos. se eu fodi alguém, devo receber medalhas de honras por filantropia. hoje sei que ser triste é um bom negócio. o que vale é sempre a intenção, mesmo que a contragosto.

07 outubro 2009

Jan'Ela



Nada senti quando ele pulou, não tentei impedir, sei que o esqueceria rápido, pois ele não me feriu como os outros.

Ele se jogou depois da nossa conversa, sabíamos que seria a última, mesmo assim, me calei. Ele não esperava por nenhum dizer. Pensei em perguntar: “por que eu?” mas já era tarde, foi melhor desse jeito.

Ele se jogou de costas e, engraçado, seu rosto, seus cabelos gris e a gravata marinho foram sumindo em questão de segundos... aprendi que as pessoas podiam desaparecer se quisessem. Ele deixou o dinheiro em cima da mesa, o dinheiro e o cigarro. Sorri, eu já não fumava mais.

O melhor de tudo era o alívio de sair daquele prédio com a consciência tranqüila, poder tomar o elevador social, sair pela porta da frente, me esquivar da multidão e contemplar por alguns minutos o corpo do meu pai espatifado no chão. Bonito pela primeira vez.

“É o meu pai, eu estive com ele agora, como isso foi acontecer?”- gritei.

Sabia que seria indiciada, talvez detida, mas nada daquilo importava, os motivos estavam mortos, também.

01 outubro 2009

DEUS É O DIABO NA TERRA DO CARNAVAL


como pode ver, o calor insuportável deste fim de carnaval é coisa do capeta. estamos no inferno suando mares de fluídos corporais. a única alternativa é sair pela avenida pelado e torcer pra algum ventinho nos refrescar a pele (e o sexo).

menos mal, a chuva caiu e borrou a maquiagem do deus travestido no carro alegórico. mas ainda deu tempo de se esfregar na mulata e reproduzir querubins. ora, na festa da carne tudo é válido. mesmo o mascarado na senzala me parece feliz.

o derradeiro beijo do besouro dentro da tanga da morena que dormia no quarto ao lado. sim, porque depois das formalidades vem a orgia. nossos pecados são aceitos como parte dos trâmites legais.

no mais, peço aos foliões que ejaculem dentro dos recipientes adequados já que na terra do carnaval abundam gente de quina pra lua.